Comparativo: Indian Chieftain x Harley-Davidson Street Glide

Baggers americanas foram atualizadas em diferentes direções para 2017, tornando modelos de aparência semelhante quase opostos no comportamento na estrada

21/07/2017 15:45

A rivalidade centenária entre Harley-Davidson e Indian foi renovada este ano com a adoção de novo motor e suspensões pela primeira, e de novo painel e sistema multimídia pela segunda (“infotainment”). Aqui juntamos as baggers Street Glide Special com o V2 Milwaukee-Eight e Chieftain com sua recém-chegada tela de 7 polegadas, nova interface e grande variedade de dados disponíveis. Dois exemplos de tecnologia aliada à tradição, que podem parecer similares quanto ao design mas são completamente diferentes em uso.

As carenagens com para-brisa baixo (há ajuste de altura apenas na Chieftain, elétrico) que se movimentam com o guidão e abrigam painel e sistema multimídia têm inspirações diferentes. A da Street Glide foi batizada de asa de morcego, enquanto a da Indian, com uma peça cromada que engloba farol principal e dois auxiliares é uma releitura de locomotivas americanas dos anos 1950. Outra diferença estética está nos retrovisores fixados à carenagem na primeira e ao guidão na segunda. Ainda na dianteira a Harley exibe uma roda maior de 19 polegadas calçando pneu de perfil baixo (130/60) e a Indian mantém seu clássico para-lama envolvente cobrindo a roda de 16” (mesma medida da traseira das duas motos) em pneu de perfil alto (130/90).

Passando para trás da carenagem nota-se melhor acabamento da Chieftain, caixas de comandos cromadas contra as de plástico preto da Street Glide e a tela maior de 7” contra 6”. A Harley optou por manter quatro mostradores analógicos, o que hoje pouco se justifica porque além de velocímetro e conta-giros um serve apenas como voltímetro e o outro como marcador de combustível, funções resumidas pela Indian em displays digitais. O sistema infotainment da Indian inicia rapidamente, tem interface mais bonita e moderna, maior quantidade de dados disponível e recursos interessantes como a possibilidade de customizar quais dados serão exibidos na tela principal ou mesmo optar por uma versão em que o mapa do GPS ocupa meia tela e dados são exibidos do outro lado. A potência de 50 watts por canal do sistema de som é o dobro da concorrente.

Vai guardar bagagem, como fizemos antes de viajar para o teste? Basta destravar as fechaduras das malas rígidas remotamente através do chaveiro/sensor de presença da Chieftain, sem colocar a chave na fechadura como na Street Glide. Se for levar garupa a situação também será melhor na Indian, o banco traseiro é mais largo e é plano, ao passo que o da Harley inexplicavelmente acompanha o desenho do para-lama inclinando-se para baixo na porção traseira – o passageiro tende a escorregar para trás.   

Motores

Montamos nas duas motos para partir, as posições se revelaram também diferentes: guidão estreito na Street Glide, plataformas mais altas e próximas deixam as pernas mais dobradas; guidão largo e mais próximo na Chieftain favorece o conforto, a moto é mais comprida e oferece mais espaço às pernas. Partida dada, o Milwaukee-Eight de 1.745cc ronca mais alto e grave, a marcha-lenta permanece irregular, o acionamento das alavancas exige força adicional e a resposta ao acelerador é mais brusca, com vibração acentuada em baixas rotações (significativamente menor que no V2 Twin-Cam anterior). O Thunder Stroke de 1.811cc da concorrente é mais silencioso, suave e de respostas progressivas, sua vibração aumenta em altas rotações.

Colocamos cidades do Circuito das Águas paulista como destino no GPS, para percorrermos as excelentes estradas de serra da região (Itatiba, Morungaba, Amparo, Serra Negra, Águas de Lindóia, Bragança Paulista...) e uma surpresa desagradável: novamente o sistema da Harley se mostra antiquado, o mapa é exibido sem que se adapte à direção seguida pela moto, mantendo o Norte na parte de cima da tela e portanto indicando o movimento para os lados (se o sentido for Leste ou Oeste) ou até para trás (Sul) no mapa, dificultando o entendimento e favorecendo erros de rota.

A Indian se mostra mais leve e fácil de manobrar na saída, no que a largura do guidão deve contribuir devido ao efeito alavanca potencializado. Em aceleração máxima fica atrás, precisa de 6s42 para atingir 100 km/h enquanto a Harley o faz em 5s62 e ainda retoma velocidade mais rápido. Aqui vale fazer um aparte técnico, porque o resultado pode parecer estranho se o motor da Indian rende torque máximo maior (16,5 kgf.m a 3.000 rpm contra 14,8 a 3.250 rpm). Porém a moto é maior e 15 kg mais pesada, a relação de marchas ligeiramente mais longa e como as potências não são informadas pelas duas marcas, podemos supor que as 4 válvulas por cilindro do Milwaukee-Eight o favoreçam nesse quesito (2 válvulas no Thunder Stroke), o que também explica o funcionamento mais suave em altos regimes.

Ciclística

Os primeiros quilômetros dentro da cidade não foram agradáveis com nenhuma delas, o tamanho as “encalha” no trânsito e as manobras são trabalhosas, afinal foram projetadas para a estrada. Mas o percurso com asfalto irregular, emendas e buracos foi útil para começar a avaliar as suspensões. Os comportamentos são praticamente opostos, mais precisão e informação do que ocorre no piso com a Street Glide, que por outro lado se reverte na transmissão de impactos aos ocupantes. A traseira ainda tem o problema crítico de chegar ao fim de curso e dar grandes trancos em algumas situações. Na Chieftain muita maciez, ao custo de menor precisão do sistema de direção, embora nas curvas de serra que enfrentamos oscilasse menos que a Harley favorecida pela rigidez do chassi de alumínio fundido no lugar dos tubos de aço.

Para reduzir a velocidade os sistemas de freio das duas são tecnicamente equivalentes, porém o funcionamento de cada ABS produz enormes diferenças. A Street Glide deveria ser favorecida pelo menor peso, o que não aconteceu na prática: a 100 km/h percorreu meio metro a mais até a parada por causa da excessiva interferência e lentidão do sistema antitravamento, reduzindo a pressão sobre os pistões por períodos prolongados e alongando o espaço necessário. Na Chieftain ocorre o oposto, o sistema chega a permitir breves “cantadas” de pneu (travamento) antes de entrar em ação, porém de forma mais sutil e sem reduzir tanto a pressão no sistema.

Considerando o que tem maior relevância numa touring clássica sendo conforto, conveniências proporcionadas pelos recursos disponíveis e qualidade de design/acabamento concluímos pela vitória da Indian Chieftain. A diferença de preço inicial de R$ 5.590 é pequena para motos de valor ao redor de R$ 90 mil levando em conta o que a Indian entrega a mais, e fica ainda menor com o adicional cobrado pela Harley para qualquer cor que não seja o preto sólido, neste caso representando acréscimo de R$ 800 pelo preto fosco e deixando a diferença em R$ 4.790. Ponto negativo da Indian é não oferecer alternativa de cor ao cinza fosco na linha 2017. 

APLICATIVO



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