Eu e ela: ?minha moto não é objeto?

Em cinco anos, Thiago Freire estabeleceu forte vínculo com Pretinha, sua Honda Bros 150 que passou recentemente por um processo de customização

19/12/2014 16:57

Texto: Vinícius Piva        fotos: Mario Villaescusa

A relação homem-máquina pode chegar a um estágio tão elevado que se torna incompreensível do ponto de vista da razão. Ainda mais nos casos em que a interação se dá entre um motociclista e seu veículo. Thiago Freire, 28 anos, é um típico exemplo. A intimidade estabelecida com sua Honda Bros 150 ano 2010, transformada recentemente em uma street tracker, está além do comum.   

Habilitado há sete anos, acompanhou desde criança a interação do tio com as motos pegou o gosto pelas duas rodas. Com 15 anos aprendeu a pilotar e se entusiasmou na adolescência com um presente de Natal nunca recebido. “Meu pai começou um consórcio da Honda Biz, mas nunca conseguiu me dar a moto porque a empresa dele fechou as portas. Fiquei bastante chateado e nesse momento decidi juntar dinheiro para comprar minha moto”, explica o produtor de vídeos.

Passaram-se alguns bons anos até o sonho se tornar realidade. Para tanto, vendeu o carro e investiu a grana em uma Honda Bros 150 nova. Daquele momento em diante, sua pequena trail passaria a acompanhá-lo em todos os momentos. Carro? “Não quero mais, já disse a minha namorada que só comprarei um quando tiver um filho”.

Em cinco anos, a relação com a moto só se intensificou. Juntos, enfrentaram enchentes, fizeram mudança de casa, compras em supermercado, entre muitas outras coisas. Até nome ela ganhou: Pretinha. “Quando me perguntavam qual era a minha moto eu apontava para ela a distância e dizia ‘é aquela pretinha ali’. E acabou pegando”. Por mês, roda mais de 1.500 km entre uso diário para os afazeres profissionais e passeios noturnos com amigos, com os quais se reúne semanalmente para curtir a cidade e ver o mundo de uma outra ótica. “Ando por andar, como se eu estivesse caminhando. É o que mais gosto de fazer na vida”, conta o paulistano.

Há pouco tempo, Thiago Freire decidiu dar uma nova cara à sua Pretinha. Procurou empresas de customização, mas teve dificuldade em encontrar quem abraçasse o projeto. Segundo ele, a maioria das empresas opta por trabalhar com modelos de alta cilindrada. Por sorte, conheceu em uma festa o pessoal da Bendita Macchina. Conversaram sobre o projeto e no dia seguinte Freire levou a Bros para a oficina, de onde não saiu mais. “Eles disseram que a Pretinha ficaria por lá. Argumentei que ainda não tinha o dinheiro, mas eles insistiram e resolvi aceitar o desafio de me virar para pagá-los”, lembra.

Para ele, as cinco semanas longe da sua moto foram as mais angustiantes da sua vida. “Nunca tinha ficado tanto tempo longe dela, parecia que eu estava há um ano distante. Peguei uma motoneta emprestada com um amigo e depois uma custom, mas não era a mesma coisa, eu queria a minha moto”, conta Freire, que participou ativamente de todo o processo de transformação. A saudade era tanta que quando foi buscá-la, rodou 190 km da manhã daquele dia até às 3h30 do dia seguinte.

O nome continua Pretinha, mas a cor do tanque passou a ser laranja, inspirada em uma Harley-Davidson 883 de tom semelhante. O quadro foi reduzido para encurtar a moto, mas recebeu um banco de dois lugares – diferente do projeto inicial – para Thiago continuar a levar a namorada na garupa. Visualmente, o para-lama é curto e rente ao pneu dianteiro, maior e mais largo em relação ao original, bem como o traseiro. O farol dianteiro é redondo e em tom amarelado, e a lanterna traseira tem o mesmo formato, mas na cor vermelha. Painel, manopla, espelhos retrovisores e escapes são todos novos. O motor, porém, não foi alterado.

Freire considera a Pretinha sua primeira relíquia histórica familiar, mesmo, segundo ele, não sendo apegado a objetos. “Na verdade, ela não é um objeto para mim, é uma pessoa. É alguém que se importa comigo e preciso dar atenção”. Por isso, nem cogita a possibilidade de um dia vendê-la. “Gosto de histórias e vai ser legal daqui a 40 anos, quando perguntarem sobre a moto que estará na garagem, eu contar como ela chegou até aqui. A Pretinha vai ficar comigo até o fim”, encerra.

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Veja um vídeo do Thiago Freire com sua Pretinha:

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