Coluna do Leandro Mello: na pista com o piloto da MotoGP Jorge Lorenzo

Nosso piloto de testes conheceu o lado profissional e pessoal do bicampeão mundial da MotoGP

03/08/2015 12:22

Fotos: Mario Villaescusa

Quero compartilhar a maior satisfação que vivi como piloto! No último fim de semana, tive o enorme prazer de pilotar ao lado do bicampeão mundial da MotoGP Jorge Lorenzo. Confesso que eu tinha até um pouco de desprezo por ele, o que serve de lição para a vida: não julgar a pessoa por apenas um contato. Ficou claro para mim que existe um ser humano no piloto que muitas vezes não aparece na tensão de um fim de semana na pista. “Nas corridas só penso em fazer de tudo para ganhar, não quero que nada me atrapalhe, e às vezes uma entrevista pega esse momento e minha imagem fica distorcida”, explica o piloto oficial da Yamaha na MotoGP.

Temos dias bons e ruins, mas também existem os dias ótimos, como foi no lançamento da esportiva R3 no Brasil. Fiz a reportagem de forma calma, pois não era tão fã como de Valentino Rossi. Já deixo claro que de nenhuma maneira me comparo ao nível de Lorenzo, vai muito além do meu talento, técnica e treinamento, porém eu tinha a vantagem de conhecer muito bem a pista e de ser uma moto completamente diferente. Depois dos compromissos fora da pista, convidei esse piloto para andarmos no circuito Velo Città. Nas primeiras voltas fui na frente para dar referência, já que é um traçado difícil e extremamente técnico!

Eu estava possuído, ver ele atrás de mim me empolgava e saí acelerando forte. Como conhecia a pista, abria vantagem e tinha que aliviar. Fato é que via um competidor nato levando a brincadeira muito mais a sério do que precisávamos! Depois de quatro voltas, sinalizei para ele passar e pensei ‘não posso deixa-lo abrir nenhum metro, pois eu nunca mais pegaria’. Ele se atrapalhou um pouco com a pista, consegui colar e cada vez que ele me via perto, ficava mais agressivo. Nunca vi um piloto com uma tocada extremamente radical. Sua zona de conforto é acima do limite da motocicleta, por isso usa a pista inteira até o final da zebra – por duas vezes foi até a grama.

Em seguida ele parou possuído e falou sério: “Sua moto está andando mais que a minha, troca comigo!” Confesso que aquilo mexeu comigo, despertou o leão dentro de um velho atleta aposentado. Peguei a moto que não estava tão amaciada e fui atrás dele com a faca nos dentes. Fazia tempo que eu não me dispunha a conseguir algo a qualquer custo, eu pensava ‘acompanho ou caio’. Andamos mais duas voltas juntos, como se estivéssemos disputando um campeonato curva a curva. Foi sensacional! Ele parou novamente indignado por não estar me superando e me perguntou em que giro eu estava trocando de marcha. Respondi em 13.000 rpm, ele então balançou a cabeça e falou: “É por isso, estou trocando a 9.000 rpm”. A seguir, a produção nos parou falando que ele tinha que voltar para a moto azul, com a qual tinha começado a matéria, e eu para a vermelha.

Nunca tinha visto um cara tão competitivo na vida... ele pediu outra moto azul porque não tinha gostado daquela, e me falou para pegar outro modelo também. Eu já estava alucinado e falei. “Não estamos aqui para disputar, mas para gravar. Só faltam duas voltas para terminar e você tem 43 kg a menos do que eu”, falei. Ele saiu contrariado acelerando tudo que podia e eu tentando ir atrás, aí a imagem congelava e eu me emocionava. Vi uma das pilotagens mais lindas e com certeza mais agressivas da minha vida! Ele ralava o cotovelo na minha frente em quase todas as curvas, e eu tentando ir atrás. Escorreguei de frente, de traseira, quase fui para grama e ele foi abrindo um pouco.

Logo paramos, eu exausto e ele rindo. Saía o lado piloto e entrava o pessoal, de um cara que tinha acabado de se divertir muito. Rimos, falamos de detalhes dos pegas, das escorregadas e de muito mais. Sua alegria foi radiante. Tornei-me fã da pessoa que eu menos gostava do Mundial de Motovelocidade. Agora o melhor. Depois, na coletiva de imprensa, um jornalista perguntou se ele tinha andado na pista e na moto. Ele respondeu: “Tive a oportunidade de andar com o Leandro, um piloto extremamente rápido. Fizemos uma disputamos e eu não estava conseguindo andar junto com ele, então peguei sua moto, mesmo assim estava difícil. Daí ele me ensinou o traçado e a forma de pilotar a motocicleta e dei oito voltas de muita diversão!”

Ouvir isso, com a humildade que ele teve de me chamar de seu professor, me fez engasgar o choro por três vezes. Como disse, foi a melhor gratificação como piloto! E para morder minha língua e a de muitas pessoas, hoje sou fã de carteirinha desse piloto!

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