Competição: a primeira vez em uma prova de supermoto

Diretor de arte de Duas Rodas trocou rodas e pneus de sua moto off-road e foi para a pista disputar uma corrida de supermoto

05/08/2015 15:37

Texto: Magno Augustus Xavier     fotos: divulgação e arquivo pessoal

Não consigo prestar mais atenção ao que acontece em minha volta, as pessoas falam comigo, mas não ouço, minha cachorrinha de estimação come meu sapato e não vejo. As contas, os compromissos, os problemas... tudo simplesmente desapareceu. Tenho apenas pensamentos sobre o que pode acontecer em alguns dias, quando finalmente vou disputar posições em uma corrida, será a minha primeira vez em uma competição de motocicletas.

Meses atrás adquiri uma motocicleta para a prática do motocross, desde então aprendi coisas incríveis sobre a árdua tarefa de conduzir tal veículo sobre as severas condições de um circuito off-road. Até que cruzei com um piloto que, talvez em um momento de generosidade ou loucura, me convidou a participar de uma prova de supermoto. Não pude recusar, afinal ele me emprestaria rodas especiais para a prática desse esporte.

Uma moto, duas possibilidades: a conversão de uma off-road em uma supermoto

No decorrer de cinco dias divididos entre obrigações no trabalho, montagem das rodas aro 17” com pneus lisos ou slick (as originais são 19” e 21”), condicionamento físico e alimentação razoavelmente adequados, enfim chega a véspera da corrida. Durante a noite, tive sérias dificuldades para dormir. Fui aterrorizado por todo tipo de dúvidas: ‘e se eu não for rápido o suficiente? Vou conseguir me classificar no domingo? E se eu cair? Sim, vou cair, mas que não seja na corrida, que seja amanhã durante os treinos de sábado’. Aí tocou o despertador e já era manhã, ao menos não vou chegar atrasado. Vou em direção ao kartódromo, localizado no litoral de SP, em Praia Grande, onde será realizada a prova “19º Corpo em Ação” que reúne, entre outros grandes pilotos, os multicampeões Francisco “Chiquinho” Velasco e Rafael Fonseca.

Pneus mágicos

Quando vou às pistas treinar em Clínicas de Pilotagem, sempre me pergunto como é possível estar certo de estar utilizando toda a aderência do pneu dianteiro. Ouvi por muito tempo que, se perdesse a dianteira, estaria em uma situação difícil, e que teria sorte se o pneu da frente recuperasse a aderência (realmente aconteceu algumas vezes). Porém, há aproximadamente 35 anos, os campeões mundiais de motovelocidade Kenny Roberts e Freddie Spencer começaram a disputar posições derrapando com a frente em suas máquinas de 500cc. Na época, Roberts comentou algo mais ou menos assim: “se não estou derrapando é porque ainda tenho aderência e para que ela serve senão para ir mais rápido?”.

Entrei na pista com minha CRF 250R decidido a exigir o máximo de aderência dos novos pneus slick, em todas as curvas. Após aquecer os pneus (para essa corrida não foi utilizado trecho off-road), aumentei a velocidade e consequentemente a inclinação volta após volta, com nunca tinha feito antes. Exigi ao máximo o disco de freio dianteiro de 320 mm especialmente fabricado para o supermoto, até começar a derrapar com a frente, “uau”! Abusei cada vez mais do acelerador e dos freios, e os pneus aceitaram essa condição, principalmente o dianteiro ao menos por uma dúzia de voltas, até que caí.

O som da queda em piso duro é único e inconfundível, um estampido seco seguido de metal raspando pelo asfalto, mas dessa vez eu não podia me dar ao luxo de passar dias “digerindo” a experiência, eu precisava voltar imediatamente àquela curva e ir o mais rápido possível novamente. É claro que para mim derrapar com o pneu dianteiro durante as frenagens foi uma novidade, mas acredito que caí por outras razões, não por exceder o limite do pneu. Ao menos eliminei uma dúvida que me perseguiu por tanto tempo, agora acredito entender por que os pilotos profissionais deslizam com o pneu dianteiro frequentemente. Porque não é possível conseguir tempos de volta aparentemente impossíveis sem fazer mágica com os pneus para competição – o que seria impossível com pneus comuns.

Dia de corrida

É domingo e estou a poucas horas da largada. Entro na área restrita de box de mãos dadas com minha mulher e confesso a ela que tenho a sensação de que meu estômago vai sair pela boca. Tento vestir o macacão emprestado número 52 (uso 56), retiro o forro e me espremo dentro do couro, que sem a capa protetora interna mais se parece com lixa. Beijo a mulher que me deseja sorte e parto para a pista. Após a primeira volta de qualificação, toda a ansiedade, o nervosismo e o medo desaparecem.

Serão pouco menos de 20 minutos para qualificar, e pela manhã fiz um breve treino e meu tempo foi horrível, 51 segundos. Nesse circuito, ainda acima de 50s significa que você não é competitivo. Concluí a classificação com 49s e pela primeira vez me senti muito bem, pois atingi meu primeiro objetivo de rodar abaixo dos 50s. Tento conter a euforia, agora faço parte dos caras que rodam na casa dos 40 segundos, afinal 49,999s é casa dos quarenta, certo? Sinto-me orgulhoso.

Como não tinha cobertores para aquecer os pneus, deixei a moto sob o sol antes da corrida, mas é claro que não deu certo. Durante a primeira volta escorrego para todo lado, mesmo assim penso apenas em tentar chegar até a motocicleta a minha frente. Sigo pela pista cometendo inúmeros erros e também acertos, aprendendo a manter uma volta consistente e, volta após volta, inclinando ao máximo nas tangentes da curvas. A moto derrapa e disparo nas pequenas retas, muitas vezes com a roda dianteira no ar, os pneus me oferecem mais tração do que consigo utilizar.

Assim como a moto, o tempo também voa e logo vejo a bandeira branca anunciando última volta. Nesse momento apenas penso em não cair, pois estava bem perto de cumprir meu segundo objetivo: concluir minha primeira prova. E assim aconteceu. Cheguei aos boxes exausto e realizado, como se a minha vida tivesse culminado naquele momento. Missão cumprida, sobrevivi aos 18 minutos mais eletrizantes de minha breve existência. Tirei o capacete, beijei a mulher e fui informado que cheguei em sexto, embora tenha andado a maior parte da corrida na quinta posição. Por pouco não chego ao pódio... Queria muito aquele pequeno troféu, ficou um gosto amargo por não consegui-lo, penso que poderia ter arriscado mais.

Competir, ao menos para mim, foi um extraordinário esforço físico e mental. Quase sucumbi a uma avalanche de pensamentos bons e ruins desde o dia em que aceitei o convite de participar da prova. Agora tenho a mente inundada por ideias e vontades que não existiam antes de competir no supermoto. Talvez ideias de um piloto amador, ou melhor, um adulto com sonhos de criança que ingenuamente vislumbra o lugar mais alto do pódio.

Agradecimentos:

Velasco Racing: facebook/Piloto.Chiquinho.Velasco

Equipe KL Racing

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