Análise: Fausto Macieira faz balanço da quarta etapa do Mundial de Motovelocidade

Nosso colunista conta como o espanhol Jorge Lorenzo ressurgiu e ganhou a corrida de Jerez ainda na quinta-feira, antes do início dos treinos

05/05/2015 10:02

Quem se lembra do Heart, banda de rock americana chefiada pelas irmãs-gatinhas Ana e Nancy Wilson? Elas, que hoje devem ser duas senhorinhas, em 1985 gravaram uma música muito especial ‘If Looks Could Kill’, ‘Se Olhares Pudessem Matar’. Pois bem, se Marc Márquez venceu de véspera no Texas no mês passado, o bicampeão da MotoGP e tetra mundial Jorge Lorenzo ganhou a corrida de domingo simplesmente na força do olhar.

Foi na tradicional coletiva de imprensa de quinta-feira, na esfuziante Jerez de la Frontera, terra da bebida e próxima da fronteira Europa/África. E com todo o prestígio de Lorenzo na sua terra, quase ninguém se interessou por ele. Todos os olhares estavam postos em dois pilotos: Marc Márquez, derrotado de maneira humilhante na Argentina, com direito a tombo, zero ponto, dedo esmigalhado por um amigo (muy amigo) em um treino em pista de terra e recém-operado do tal dedo, o mindinho da mão esquerda. O outro focado era o experiente Valentino Rossi, 20 anos de carreia, 110 vitórias, nove títulos mundiais e líder do Mundial de MotoGP.

As perguntas foram todas para eles, se estão aborrecidos um com o outro, trocaram de mal, como será o futuro etc. Ali ao lado, Jorge Lorenzo, quase tão esquecido quanto o reiteradamente ausente Dani Pedrosa – que segundo o motojornalista Mela Chércoles, não correu porque ‘se borra’ de Jerez, olhava. E pensava. Oito meses sem uma pole, seis meses fora do pódio, cortejado pela Ducati e a caminho do ostracismo motovelocístico.

Mas Lorenzo não é triste como Pedrosa, nem desiste fácil como Casey Stoner. Ele é o espartano, veio das cavernas, e queria chegar aos 28 anos – completados no dia seguinte ao da corrida – no auge novamente. O craque capaz de alternar a força implacável do martelo e a suavidade da manteiga decidiu guardar o lado laticínio na gaveta e apostar tudo no metal pesado. No hard rock do Heart.

If looks could kill (Se olhares pudessem matar)

You'd be lying on the floor (você estaria deitado no chão)

You'd be begging me please, please (Você estaria me implorando por favor, por favor)

Baby don't hurt me no more (Baby não me machuque mais)

If looks could kill (Se olhares pudessem matar)

You'd be reeling from the pain (você estaria cambaleando de dor)

And you'd never lie again (E você nunca mais mentiria)

If looks could kill (Se olhares pudessem matar)

Captaram o astral? Se Lorenzo fosse o Zagalo teria pensado que eles (MM93 e VR46) iriam ter que engoli-lo no final do domingo. Dito e feito. Treinos Livres 1, 2, 3 e Lorenzo na cabeça, martelando sem parar. Alívio no TL 4 e tome martelo no Q2, abrindo 0,390s de Márquez e monumentais 0,722s de Rossi.

Chega o domingo da corrida e o tempo está mais frio, perfeito para o ritmo alucinante da M1 numeral 99. Os pilotos escolhem pneus médios na traseira e duro na dianteira, a aposta do espartano é imitada pelos principais rivais. Luzes apagadas e Jorge decola com perfeição, seguido de Pol Espargaró e Marc Márquez. O bicampeão logo supera a Yamaha satélite e tenta atacar, deixando Rossi às voltas com Espargaró e Crutchlow encaixotado atrás da Suzuki de Aleix Espargaró.

As Ducatis têm problemas. Andrea Dovizioso sai da pista duas vezes e seu xará Iannone digitou o mapa errado, para condições de chuva, e sua GP15 ficou mansinha na hora da largada. Até a luz traseira da moto 29 acendeu, e o coitado não conseguiu acertar o mapa.

Lorenzo se livra de Márquez e Rossi sobe para terceiro, será que vamos ter uma repetição do duelo argentino? Márquez é avisado e reage, o dedo incomoda, mas a ordem é evitar o ataque direto a qualquer preço. Mais atrás, Crutchlow aproveita um erro de Pol para ser quarto e a corrida se estabiliza. A quatro voltas do fim, Lorenzo tem cinco segundos à frente sobre Márquez, que mantém Rossi sob controle, e a seguir cruzam a linha de chegada Crutchlow, Pol, Iannone, Aleix, Bradley Smith, Andrea Dovizioso, Yonny Hernandez, Maverick Viñales, Danilo Petrucci, Scott Redding, Hector Barberá (primeiro da classe Aberta), Alvaro Bautista –

marcando o primeiro ponto do retorno da Aprilia ao grid da MotoGP –, Stefan Bradl, Nicky Hayden, Eugene Laverty, Marco Melandri (que não foi o último, ufa), Jack Miller, Alex de Angelis e Mike DiMeglio. Hiroshi Aoyama? Destruiu mais uma moto do Pedrosa. Reitero que não tenho nada contra o campeão do mundo das 250, mas tá devendo.

Rossi, que completou monumentais 200 pódios, segue na ponta, abrindo 15 pontos de frente sobre Dovizioso, com Lorenzo, Márquez e Iannone no top-five.

Moto2

Na Moto2, corridaaaaça em que Tito Rabat tentou dar uma de Lorenzo, mas não era dia; Jonas Folger tomou a ponta e sumiu no horizonte andaluz com a Kalex AGR do cozinheiro, ops chef, Karlos Arguiñano, cada vez mais feliz com o molho do motociclismo na sua vida profissional.

E trombada desesperada do até então cerebral Alex Rins em Tito Rabat, deixando a porta aberta para que o líder do campeonato Johann Zarco surrupiasse a segunda posição e aumentasse a sua vantagem no campeonato. O nostro Franco Morbidelli fez mais uma corrida de recuperação, de 15º para sexto na bandeirada.

Zarco lidera com folga depois da barbeiragem de Rins, com Folger, que já venceu duas vezes este ano, assumindo a segunda posição.

Moto3

Na Moto3, em uma pista onde a agilidade vale mais do que a potência pura, grande pega a quatro entre Danny Kent, Fabio Quartararo, Miguel Oliveira e Brad Binder. No final deu Kent pela terceira vez seguida. Há 46 anos, desde Dave Simmonds com Kawasaki, um inglês não vencia três GPs seguidos.

E o que dizer do jovem Quartararo, que liderou a corrida e tentou uma manobra desesperada sobre o inglês na Curva 13 na última volta? Ele quase derrubou o líder, quase caiu e depois se justificou dizendo que queria fazer “como Márquez em Lorenzo ali mesmo em 2013”. Ulalá...

Kent passeia no campeonato, com 31 pontos à frente do companheiro véio Efren Vázquez, e 39 sobre Quartararo, que a exemplo de Zarco na Moto2, corre em casa dia 17 em Le Mans. Até lá!

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