Análise: Fausto Macieira faz balanço da terceira etapa do Mundial de Motovelocidade

Nosso colunista conta o que rolou nas três categorias do GP da Argentina, disputado no último fim de semana

22/04/2015 10:39

As corridas na fabulosa pista de Termas de Río Hondo trouxeram um momento inédito na chamada “era Márquez”. Decorridos três GPs, Valentino Rossi lidera o campeonato mundial e sonha com o décimo título. Em tese, a estratégia das equipes de fábrica da MotoGP era simples: quem escolhesse o pneu traseiro duro (faixa vermelha nas laterais) teria melhor aderência no início da corrida, mas enfrentaria uma acentuada perda de desempenho nas voltas finais. Já os que escolhessem o novo pneu extraduro jogaria com a maior resistência, o que permitiria compensar o ritmo inicial mais lento.

As Yamaha, em especial Jorge Lorenzo, apostavam no extraduro. Na garagem da Honda, Marc Márquez apostava no duro, ciente das implicações a ponto de afirmar com um sorriso ao repórter Anselmo Caparica, do SporTV, que esperava “longas derrapagens” no final da corrida. No dia da corrida, o tempo começou fechado, foi melhorando, e na hora da largada da MotoGP, às 16h, a temperatura era de 37º C, o que recomendava o extraduro.

Porém Márquez e os outros pilotos da Honda mantiveram suas escolhas, o mesmo acontecendo com o esquadrão Yamaha. O cenário estava montado, mas faltava ter em conta as equipes de fábrica com vantagens de Classe Aberta, que, favorecidas pelo pneu traseiro médio (mas sem ter a opção extradura), se destacaram nos treinos e largaram na primeira fila, com Aleix Espargaró, da Suzuki, em segundo – o que não acontecia desde 2007 – e Andrea Iannone, da Ducati, em terceiro.

Valentino Rossi, que ainda não se entendeu bem com o “novo” (de 2012) formato de treinos classificatórios, decolou da oitava posição. Nada animador, mas a gente sabe que o “Doutor” é ruim de treino e bom de corrida. Além disso, Rossi largou nessa posição nas duas últimas vezes que venceu, na Austrália em 2014 e no Catar, no mês passado.

A corrida

Luzes apagadas, Márquez disparou razoavelmente bem da pole-position, mas foi superado no primeiro setor pela Suzuki de Espargaró. Rossi trombou com Iannone, que havia largado mal. Na confusão, o bicampeão Jorge Lorenzo tomou a terceira posição, enquanto Márquez superou Espargaró na reta oposta sem dificuldade e começou a abrir vantagem.  Lorenzo fez o mesmo logo a seguir. Fechando a primeira volta a vantagem de Marc já beirava 1 segundo, com Rossi ainda em oitavo. Pouco depois, Cal Crutchlow e Andrea Dovizioso ultrapassaram Lorenzo, com Rossi em sexto, atrás de Iannone.

Iannone também superou Lorenzo, que perdia ritmo e também foi superado por Rossi. Dovi passou Crutchlow, que tinha problemas de estabilidade e também perdeu a posição para Iannone e Rossi. Lá na frente, Márquez corria ao estilo de Dani Pedrosa, sumindo no horizonte sem olhar para trás. Rossi progredia, enfileirando as Ducati uma a uma. Na décima volta, Rossi ganhou a segunda posição de Dovizioso e começou a buscar Márquez. Segundo o italiano, “Márquez era pequenininho lá na frente (com 4,3 segundos de vantagem), mas foi crescendo, crescendo...”. A diferença foi caindo, pois a Honda 93 tinha problemas crescentes de equilíbrio. Os décimos foram se tornando maiores, 2, 3, meio segundo.

Na 21ª dos 25 giros, Rossi fez a melhor volta da corrida, 1min39s017, com a diferença baixando para 1 segundo. O ataque final estava começando. Rossi chegou com tudo na volta 22 e botou por dentro da Honda, mas abriu a trajetória e tomou o revide. Marc se aguentava na liderança, mas era visível que o bote da Yamaha viria novamente, e seria definitivo. Na penúltima volta os dois desceram a reta oposta juntos, com Marc se defendendo precariamente nas curvas 5 e 6 até perder a traseira na frenagem da 7 e ir na zebra. Rossi puxou sua moto para a linha de dentro e passou sem dificuldades.

Marc tentou voltar e trombou em Valentino, que resistiu e manteve sua linha. As duas motos saíram juntas da curva e Rossi preparou a curva seguinte, dando uma olhadinha para trás para conferir a situação. Mas Marc estava próximo demais, e a dianteira de sua moto tocou a traseira da moto do adversário, jogando-o no chão. Rossi foi embora e venceu pela 84ª vez na MotoGP e 110ª na carreira. Foi a segunda vitória dele na Argentina. A anterior foi em 1998, nas 250cc.

Dovizioso e Crutchlow, que passou por Iannone na penúltima curva da última volta, completaram o pódio. A festa foi sublime, com a fanática torcida local celebrando a vitória com entusiasmo contagiante, que aumentou ainda mais quando o vencedor subiu ao pódio com a camisa 10 de Diego Maradona, que aliás, agradeceu o gesto através das onipresentes redes sociais.

Rossi atribuiu a Márquez a culpa pela queda: “Ele já havia batido em mim, só me mantive na trajetória”. Márquez disse que “as imagens mostram o que aconteceu. Rossi continua sendo meu herói, uma referência para mim. Em cada corrida aprendo coisas com ele”. A direção de prova considerou o acidente um lance de corrida e não puniu ninguém. Mas a revanche está programada para daqui a duas semanas, em Jerez de la Frontera, território de Márquez.

O fato é que o bicampeão perdeu 20 pontos certos e recuou para quinto no campeonato, a 30 pontos do italiano, que pode administrar sua vantagem ao longo da temporada. Definitivamente, é como diz a irresistível – e clássica – marchinha carnavalesca: esse ano não vai ser igual àquele que passou...

Moto2 e Moto3

Na Moto2, vitória incontestável de Johann Zarco, da Ajo Motorsport, à frente de Sam Lowes e Alex Rins. Com o triunfo argentino, o francês passou a liderar o campeonato com quatro pontos de vantagem sobre o notável Rins, estreante na categoria que vai jogar a próxima em casa, nas curvas apertadas de Jerez.

Digna de nota mais uma grande atuação do ítalo-brasileiro Franco Morbidelli, que saiu das profundezas da 22ª colocação no grid para o quinto lugar, sua terceira em sequência, o que lhe deu a quarta colocação no campeonato. Bravo, Franco!

Na Moto3, passeio dominical do inglês Danny Kent, da Kieffer Leopard Racing Honda, que tomou a ponta logo na primeira volta e abriu inimagináveis 10,3 segundos de vantagem sobre a concorrência na linha de chegada. O companheiro de equipe Efren Vazquez e Isaac Viñales, da Husqvarna, completaram o pódio.

Desde 1971 com o saudoso Barry Sheene, um britânico não vencia dois GPs seguidos na classe menor. Kent lidera o campeonato com 66 pontos, 27 a mais do que Vásquez.

Com 15 etapas pela frente, a temporada 2015 promete grandes emoções pelo mundo afora. Braaaaap!

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