BMW cria a pequena G310R e subsidiária ganha nova missão no Brasil

09/01/2016 07:01

Por Marcelo Assumpção

A revelação da BMW G310R já era dada como certa para a semana passada durante o EICMA, o tradicional Salão de Milão, mas não deixou de surpreender. O primeiro modelo abaixo de 650cc na história recente da marca não é o mais potente da categoria e a oferta de itens de série é semelhante à da KTM 390 Duke, sua única concorrente “premium”. E justamente aí está um ponto interessante no discurso da BMW, ao afirmar que desenvolveu uma motocicleta mais amigável que a KTM porque quer vendê-la a um público maior. Pensando nisso projetou uma posição de pilotagem mais confortável e um motor de comportamento previsível, mais fácil de ser conduzido em ambiente urbano, enquanto a KTM com sua abordagem “ready to race” foca em performance, é líder em potência e perde em conforto.

Não se engane com os 34 cv de potência, intermediários entre a Honda CB Twister de R$ 13 mil e a KTM Duke de R$ 22 mil, porque o posicionamento de preço não fugirá ao estilo BMW. Embora o lançamento local no segundo semestre de 2016 ainda esteja distante para se falar em preço, especialmente em um país que atravessa uma situação econômica e cambial instável, uma fonte diz que a marca pretende posicionar a 310 como opção premium por um valor pouco inferior ao da KTM, algo ao redor de R$ 20 mil.

As expectativas dos alemães com o Brasil são elevadíssimas, grande parte do desenvolvimento foi orientado pelo mercado nacional e esperam que motociclistas brasileiros respondam por quase metade das vendas mundiais. A China seria outro mercado relevante para a G310R e depois viriam mais países asiáticos, os europeus e Estados Unidos, nesta ordem. O volume de vendas de modelos de 250-300cc no país é realmente atrativo quando se olha a vistosa soma na casa de 70 mil unidades/ano sem distinção, incluindo os modelos básicos de Honda e Yamaha na conta – como considerava uma das cinco fontes da marca que entrevistamos no EICMA e no Brasil –, mas é preciso ter em conta a capilaridade das redes de centenas de concessionárias das marcas orientais e seus preços inferiores em até 35%.

Mesmo quando pensamos na massa de proprietários dessas motos como potenciais compradores para um upgrade com a 310 ainda há o enorme desafio de chegar a eles partindo com uma rede de 36 pontos-de-venda, originalmente dimensionada para os mercados capazes de absorver produtos de alta cilindrada. Outro ponto tão importante quanto enfrentar as limitações deste momento econômico e de alcance da rede será convencer donos de Honda e Yamaha da viabilidade de manter uma BMW, de arcar com os preços das peças, o custo de mão-de-obra da autorizada, o seguro... E que serão acolhidos com interesse pelas equipes de atendimento habituadas a lidar com outro público – questões ainda não resolvidas para clientes que ingressaram na marca pela G650GS, modelo de R$ 30 mil criado anos atrás para concorrer por compradores de motos japonesas.

A categoria das 300cc “superiores” também está se inflando rapidamente com um número de lançamentos até maior que o de modelos básicos desta cilindrada: Kawasaki Z e Ninja 300, Yamaha R3 e sua futura versão MT-03, o lançamento da Ducati Scrambler Sixty2 também previsto para o segundo semestre de 2016 e a proximidade de preço das Honda CB 500, remodeladas no exterior e confirmadas para o Brasil ainda no primeiro semestre do próximo ano. Parte delas ainda não está aqui e a atual líder de vendas Yamaha R3 não atingiu 300 unidades mensais, o que renderia pouco mais de 3 mil anuais, menos do que a BMW espera vender com preço parecido e uma rede de concessionárias dez vezes menor.

O cenário que a fabricante enxerga para o futuro tem a R1200GS deixando de ser seu modelo mais vendido, a G310R originando outros modelos com o mesmo powertrain dentro de um ano (quem sabe G310GS ou XR) e um scooter de baixa cilindrada também a caminho. Globalmente a fabricante espera que nos próximos cinco anos os produtos de baixa cilindrada a permitam elevar as vendas de um patamar de 120 mil unidades/ano para 200 mil, através de incremento de 40% em número de concessionárias. O Brasil será um dos protagonistas nessa estratégia, por isso o presidente Stephan Schaller confirma que expandirá a linha de montagem em Manaus (AM) e cogita até uma planta própria em substituição ao serviço de montagem contratado da Dafra. Resta à subsidiária brasileira a árdua missão de corresponder às expectativas da matriz.

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