Clássica: a história da italiana MV Agusta

Fabricante dominou o Mundial de Motovelocidade por quase 20 anos e ajudou a produzir ídolos como Giacomo Agostini

21/07/2017 03:07

A fabricante italiana MV Agusta vem atravessando dificuldades financeiras nos últimos anos, mas seu protagonismo no Mundial de Motovelocidade dos anos 1950 aos 1970 estabeleceu um lugar permanente na história do motociclismo. Sua origem e declínio lembram as histórias de muitas outras fabricantes europeias que ascenderam com modelos populares no pós-guerra, participaram com sucesso de competições e não sobreviveram à invasão japonesa na década de 1970. A diferença da MV Agusta é que não foi apenas bem-sucedida no esporte a motor, esta foi sua prioridade mais do que lucrar vendendo motos e assim dominou o mundial durante quase 20 anos. A categoria principal foi vencida pela fabricante em 17 temporadas consecutivas, ajudando a transformar pilotos como John Surtees, Mike Hailwood e Giacomo Agostini em lendas do esporte.

Agusta era uma companhia aeronáutica que se via em dificuldades depois da 1ª Guerra Mundial, quando o filho do falecido fundador Giovanni Agusta, Domenico, fundou a Meccanica Verghera Agusta para produzir motocicletas. A ideia só se concretizaria em 1945, quando o fim da 2ª Guerra Mundial encerrou a ocupação alemã na região industrial ao redor de Milão e meios de transporte baratos ganharam a preferência dos italianos. Ao mesmo tempo em que surgiam Vespa e Lambretta Domenico lançava sua MV Agusta 98 com a simplicidade do motor de dois tempos, que logo passou a competir dentro da Itália e a vencer as primeiras provas para a marca. Seguiram-se as 125cc de 2 cilindros e a primeira de quatro tempos, uma 250cc de 1 cilindro, que ingressaram no Campeonato Italiano de Velocidade.

O campeonato mundial começou em 1949 com forças como Gilera e Mondial, esta usando uma 125cc de comando duplo no cabeçote (DOHC) que dominou a primeira temporada. Domenico então contratou projetista e mecânico-chefe da Gilera para acelerar o desenvolvimento da MV, que adotou o motor 125cc DOHC já na temporada de 1950, seguiu aperfeiçoando-o em 1951, e ao completar o conjunto com novos freios e suspensões venceu o TT da Ilha de Man e o título mundial de 1952. Para o próximo ano a fabricante italiana estaria em todas as categorias, com 350cc e 500cc DOHC de 4 cilindros. Nesta época as 125cc e 175cc de produção da marca, como a das fotos, se popularizaram na Europa por serem opções acessíveis de boa performance que com alguma preparação competiam nos finais de semana. A MV Agusta já exportava parte da produção e atingia seu recorde ultrapassando as 20 mil unidades anuais.

Domínio nos GPs

O primeiro título da categoria principal de 500cc foi conquistado em 1956 com John Surtees. A Gilera voltaria a vencer no ano seguinte (dominara as quatro temporadas anteriores ao título da MV), mas no fim do ano anunciaria conjuntamente com Moto Guzzi e Mondial a saída das competições por conta dos custos, enquanto as vendas eram impactadas pelo crescimento do mercado de automóveis. A MV Agusta também sofria, e dizem que Domenico teria concordado inicialmente em se retirar das provas junto com as concorrentes, mas continuou investindo em desenvolvimento, nos melhores projetistas e pilotos para vencer as 17 temporadas seguintes com suas motos de carenagem vermelha e prata usando motores de 4 e 3 cilindros.

Na segunda metade da década de 1960 o lançamento da MV Agusta 600 seria revolucionário entre as motos de série, uma 4 cilindros que rendia 50 cv, tinha câmbio de 5 marchas com transmissão final por cardã e freio dianteiro duplo a disco, mas fracassou em vendas. A concorrência japonesa começou a ascender nesta época com modelos de baixa cilindrada mais baratos e a conquista de vitórias nas categorias de base, o que seria intensificado nos anos 1970 com exportações para os principais mercados ocidentais, linhas de produtos cada vez mais abrangentes e modelos de até 750cc, sempre a preços competitivos. As últimas vitórias da MV ocorreram em meados da década, quando Domenico já falecera e os investimentos em competições foram reduzidos. A empresa estava em crise, matinha em produção apenas as 350cc e 500cc de 2 cilindros e a 750cc de 4 cilindros. Verdade que em versões GT, Sport e Scrambler, mas era pouco perto da dezena de faixas de cilindrada compreendidas pelas japonesas de 50cc a 750cc, em diferentes versões e a preços imbatíveis. Em 1977 a MV Agusta tinha um novo motor DOHC com 4 válvulas por cilindro pronto, projeto que foi abandonado para que continuassem em produção os propulsores já existentes, apenas com cilindrada aumentada, até o fechamento da empresa em 1980.

Os direitos de uso da marca foram comprados pelo Grupo Cagiva em 1992. Liderado por Claudio Castiglioni, havia iniciado as atividades com a marca de mesmo nome (acrônimo de Castiglioni Giovanni Varese) na época em que a MV fechava as portas. Começou com a aquisição da fábrica da Aermacchi, de propriedade da AMF Harley-Davidson, que ali produzia modelos de baixa cilindrada com motores de dois tempos. O grupo cresceu nos anos 1980 ao comprar Ducati, Moto Morini e Husqvarna. A última delas, a MV Agusta, renasceria somente em 1997 com o lançamento da esportiva F4 750. Hoje gerida por Giovanni Castiglioni, filho de Claudio, desfez recentemente uma sociedade com a AMG Mercedes-Benz nos moldes da aquisição da Ducati pela Audi, entrou em concordata e foi resgatada por um fundo de investimentos. O futuro da MV Agusta permanece incerto, fato é que no Brasil a reputação da marca foi maculada quando os dirigentes encerraram a operação local de montagem e comercialização no fim de 2015 sem qualquer comunicado e se recusando a fornecer assistência técnica aos proprietários.                 

 

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