Coluna do Marcelo Assumpção: para onde vai a Kawasaki?

Novas Z300 e Vulcan 650 podem virar o jogo para a marca no Brasil

10/06/2015 15:33

A realidade que a Kawasaki enxergava em 2008, época da instalação da subsidiária no Brasil, foi desconstruída nos últimos anos. Lançamentos por preços competitivos e em ritmo alucinante, quase simultâneo ao do exterior, naquela época faziam os executivos preverem a abertura de 70 concessionárias no país. O plano era preencher rapidamente as lacunas entre modelos de Honda, Yamaha e Suzuki em um mercado brasileiro pujante e menos concorrido nos segmentos de média e alta cilindrada. A reação das concorrentes era esperada, mas até lá a Kawasaki teria estabelecido sua fatia de mercado com ajuda das regras do Processo Produtivo Básico do Pólo de Manaus: bastava a montagem de kits importados, sem necessidade de desenvolver peças com fornecedores locais ou investir em uma linha para soldagem de chassi (quanto maior o volume produzido, maior o nível de nacionalização obrigatório para manutenção dos benefícios fiscais). Estava pronta a ambiciosa estratégia de crescimento suportada pela facilidade de se lançar modelos vindos prontos do exterior com baixo investimento.  

Agora os tempos são outros e a Kawasaki se vê com uma linha de 13 modelos on-road, 3 off-road e uma rede de 40 concessionárias. A produção que já foi o dobro da atual coloca no mercado 530 unidades mensais – um patamar equivalente às operações de BMW e Harley-Davidson no país. O cenário não é difícil só para a Kawasaki, mas a diferença é que a marca das motos verdes precisa sustentar uma rede maior, que reparte uma praça como São Paulo por quatro concessionárias (uma quinta só para a linha off-road), contra duas das outras marcas citadas. Isso significa que cada concessionária Kawasaki vende pouco mais de uma dezena de unidades mensais, das quais quase 40% são Ninja 300. As três nakeds (650, 800 e 1000) respondem por 30%, restando outra parcela de 30% repartida entre nove modelos on-road e três off-road.

Os dados sugerem que para sustentar a operação brasileira e a rede de concessionárias a Kawasaki precisa vender mais, talvez até eliminar modelos da linha. Introduzir novas motocicletas de maior volume, que antes significariam a antecipação de investimentos em processos locais de produção, agora é questão de sobrevivência – as regras do PPB determinam que a manutenção de níveis mínimos de nacionalização estão condicionados aos tetos de 20 mil unidades anuais para modelos de até 450 cm³ e 5 mil para modelos de maior cilindrada. Ou seja, neste momento a marca está longe do teto e tem margem para multiplicar a produção, especialmente na faixa de menor cilindrada.

Nesse contexto os dois próximos lançamentos terão papel fundamental para uma retomada de crescimento da marca: o mais importante é a Z300, criando um novo “degrau” para upgrade das monocilíndricas de 250/300cc, que começará a ser vendida em julho por R$ 17.990 ou R$ 1 mil a menos que a Ninja. Testamos o modelo no Brasil (Duas Rodas de junho) e posso afirmar que tem apelo estético suficiente para atrair até quem poderia comprar uma naked de maior cilindrada, mas precisa fazer uso urbano e deseja algum nível de diferenciação. A Kawasaki sabe que a Z300 canibalizará vendas da Ninjinha e espera um saldo positivo na soma das duas. Fala-se em algo ao redor de 300 unidades mensais da Z como um bom número – próximo ao auge de vendas da 250, em 2011, quando a Ninja atual está na casa de 150. 

A Vulcan S é a segunda novidade da Kawasaki e chegará às concessionárias neste mês oferecendo o passaporte para entrada no mundo das custom de maior cilindrada por competitivos R$ 25.990 (versão sem ABS), valor que a deixa R$ 6 mil abaixo das concorrentes mais próximas. A possibilidade de conciliar uso urbano e o preço extremamente atrativo podem render mais de 100 unidades mensais no balanço da marca, contribuindo para até 70% de crescimento nas vendas da Kawasaki em curto prazo, se considerada também a Z300. O tom das conversas na empresa não transparece a expectativa que seria natural quanto aos dois lançamentos, talvez porque estejam escaldados diante das dificuldades no mercado, mas sem dúvida este é um momento decisivo para a Kawasaki no Brasil. 

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