Michelin aprimora pneu para uso esportivo "de rua"

Leandro Mello testa os Power RS, nova opção para uso rodoviário esportivo e track days. E explica como escolher pneus para a aplicação correta

14/06/2017 13:54

Por Leandro Mello

A oferta de pneus para diferentes tipos de uso cresceu, parece cada vez mais uma escolha difícil de fazer. No caso da francesa Michelin, atual fornecedora da MotoGP, entre as opções para aro 17” e uso 100% no asfalto há os Pilot Street, Pilot Road 2, Pilot Road 4, Pilot Power 3 e Power Cup Evo, uma salada de sobrenomes e números que, nesta ordem, vão dos urbanos para baixa cilindrada (Street), passam pelos de uso rodoviário com banda de rodagem menos inclinada, maior durabilidade e fartos sulcos para enfrentar imprevistos climáticos (Road nas versões 2 e 4) e terminam nos esportivos de alta aderência e curvatura de banda para uso rodoviário e em circuito fechado (Power 3 e Cup). Nesta equação entram muitos fatores que determinam a aplicação correta, como tipo de construção da carcaça, compostos de borracha (durabilidade x aderência), posicionamento e capacidade de drenagem dos sulcos, inclinação da banda de rodagem (quanto mais esportivo, mais inclinação para melhorar agilidade e performance em curvas)...

O crescente número de proprietários de nakeds e esportivas interessados em track days requer pneus esportivos “de rua” que entreguem ótima aderência, mas mantenham um compromisso razoável de durabilidade e sulcos para drenagem. Esta é a aplicação dos Pilot Power 3, agora em substituição pelos novos Power RS. Já os Power Cup Evo citados antes são pneus para pistas fechadas, mais macios, que exigem temperaturas elevadas (30°C acima do RS) para atingir o nível ótimo de aderência; não têm compromisso com durabilidade, mas pequenos sulcos os tornam legais para uso nas ruas, embora não possam ser considerados práticos e seguros para quem quer rodar por estradas. O benefício dos Power RS é justamente permitir o uso rodoviário esportivo com ótima aderência em inclinações acentuadas e o track day, sem necessidade de troca. 

Meses atrás visitei a pista de testes da Michelin, na França, para testar os protótipos do que se tornariam os Power RS. Na mesma pista de 8 km de extensão rodei também com os Pilot Power 3 que agora saem de linha, incluindo curvas de alta velocidade a 280 km/h e retas a 300 km/h. O RS deixou a dianteira acentuadamente mais estável em alta velocidade, isso porque a nova carcaça é mais reforçada nos ombros e assim deforma de maneira controlada sob pressão (o mesmo vale para o pneu traseiro na aceleração de saída de curva). Ainda sem que me contassem qual seria a proposta dos RS, a de substituir os Pilot Power 3 mantendo certo nível de versatilidade para uso rodoviário, a aderência e a segurança que me transmitiram nesse primeiro contato se aproximaram muito mais de pneus para uso em pista. A área total de banda para contato com o asfalto (sem sulcos), por exemplo, aumentou de 90% para quase 94%. Mantendo-se bicomposto, portanto mais durável na parte central da banda de rodagem, e com temperatura necessária para aderência ideal em patamar de pneu de rua.

No Brasil

Depois da experiência na França me contaram que os pneus seriam lançados mundialmente e que se tratava de uma opção para quem gosta de rodar por estradas sinuosas e eventualmente participa de track days. Levei minha Yamaha R1 de pista ao autódromo ECPA, em Piracicaba (SP), para medir os melhores tempos de volta que conseguiria com os RS e jogos de pneus de diferentes modelos: fui apenas 0s8 mais lento com eles do que com os Power Cup Evo, uma variação irrisória diante das diferenças entre os dois modelos nos quesitos durabilidade e versatilidade de uso “na rua”.

Continuei usando os Power RS nos treinos e cursos de pilotagem que ministrei nas semanas seguintes ao teste, primeiro em Interlagos, conseguindo 1min45s no primeiro treino da manhã, com pista ainda fria e escorregadia. Nessa situação me surpreenderam porque sob condições de baixa aderência se saíram bem, enquanto os Power Cup Evo ou Power Slick Evo precisariam de altas temperaturas para funcionar corretamente e, sem cobertores, demorariam cerca de três voltas para oferecer boa aderência.

Depois estive nos autódromos Velo Città, em Mogi Guaçu (SP), e Mega Space, em Belo Horizonte (MG), com o mesmo par de pneus. No Mega Space rodei mais de 20 minutos sob chuva com resultado melhor do que usando os Pilot Power 3. Apesar da menor área total de sulcos, ao redor de 35° de inclinação com a moto a área de drenagem aumenta e, como nenhum piloto inclina tanto a moto com piso molhado, no extremo lateral da banda dos RS fica praticamente slick para otimizar a aderência em asfalto seco. Somados seis dias de uso em pista a vida útil do par ainda não acabou, enquanto com pneus para pista certamente já teria trocado dois pares – provavelmente a proporção será de três ou quatro para um. 

É importante reforçar que não devemos confundir os Power RS com pneus para pista ou competição. Devem ser a escolha para quem ainda quer rodar por estradas sinuosas esportivamente, mantendo a opção de ir ao track day sem ter de trocar os pneus no autódromo. Os Power Cup Evo têm no centro da banda praticamente a metade da área dos Power RS em composto mais duro, portanto com pouca inclinação já se usa o composto mole mais aderente e menos durável, além das questões de aderência em temperatura elevada e menor capacidade de drenagem já mencionadas. Um piloto não-profissional, sem compromisso de ganhar a vida sendo rápido no limite, terá muita diversão com o RS, performance de sobra para a maioria dos pilotos de fim de semana, com durabilidade para treinar bastante e aderência para manter-se em segurança fora da pista. Até julho a rede de revendedoras no país estará abastecida com 13 medidas que atenderão motos a partir de 250cc.

APLICATIVO



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