Motociclismo e política: integração ou jogo de cena?

Às vésperas das eleições, nosso colunista Fausto Macieira resgata curiosas histórias de personagens da política com o segmento de duas rodas

18/09/2014 19:13

Fausto Macieira é repórter do SporTV e colunista de Duas Rodas

Veículos associados à independência, aventura e liberdade. Não é de hoje que as motocicletas são utilizadas para reforçar – ou criar – uma imagem favorável de quem está perto delas. E político sacumé, sabe a importância das aparências, de sair bem na foto, que continua valendo mais que um milhão de palavras, discursos em especial.

As motos são sucessoras dos cavalos, reduzindo distâncias com baixo custo de manutenção e docilidade na condução, dependendo do animal no comando, é claro. Veio dos cavalos a aura de romantismo, de herói solitário cruzando as pradarias. Andar a cavalo continua sendo um exercício agradável e elegante, há o hipismo, as corridas, etc., mas como veículo falta velocidade, já que por mais velozes que sejam, eles só geram 1 hp, haha.

Presente como transporte de mensageiros na 1ª Guerra Mundial, a moto se tornou fundamental na 2ª, e não só com propósitos bélicos. Benito Mussolini, o ditador italiano que queria restaurar o império romano sobre a face da Terra, era grande fã das motos. Em documentos oficiais do famigerado Partido Fascista ele recomendava a seus seguidores que usassem as motocicletas como meio de transporte mesmo sob chuva, e abriu linhas de crédito para que mais gente se deslocasse sobre duas rodas e um motor. O próprio Mussolini tinha uma grande coleção de Guzzi e gostava de andar com roupas de motociclista, mas o costumeiro capacete não impediu que ele fosse fuzilado no fim da guerra. As motos não tiveram nada a ver com isso. Meno male...

De lá para cá não tivemos mais guerras – pelo menos oficiais – em nível mundial, mas as motocicletas continuam sendo instrumento político. Nos anos 1980, o então presidente americano Ronald Reagan aumentou as tarifas sobre motos estrangeiras para favorecer a Harley-Davidson. Em visita à fábrica, ele colocou uma moto para funcionar na segunda tentativa com o pedal, fazendo a alegria de fotógrafos e cinegrafistas.

Os americanos continuam curtindo as máquinas H-D, e a governadora do Alaska, Sarah Palin, candidata a vice na chapa presidencial de John McCain em 2008, rodou por Washington, a capital do país, na garupa de uma Harley, em um motopasseio em homenagem aos combatentes mortos na Guerra do Vietnã. “Adoro o ronco do motor e o cheiro de gasolina”, disse em mais uma de suas declarações polêmicas.

Nas bancas: comparativo especial novas x usadas com 32 motos

O Melhor Motociclista do Brasil 2014: inscrições abertas

Em tempos politicamente corretos, Barack Obama, o atual ocupante da Casa Branca, prefere as motos elétricas e apoiou o projeto da Universidade de Ohio para alinhar um protótipo movido a baterias no Troféu Turista da Ilha de Man no ano passado. A moto foi a melhor na classe estudantil do TT Zero (alusão a zero emissões).

Voltando aos motores de combustão interna, o famoso – e patenteado – som da Harley-Davidson une políticos de linhas de ação completamente opostas. O eterno presidente russo Vladimir Putin é o “orgulhoso proprietário” de um triciclo Harley, e faz parte de um motogrupo, o “Night Wolves” (Lobos da Noite), equivalente russo dos “Hells Angels” (Anjos do Inferno) americanos. O grupo tem mais de 5 mil membros e é uma espécie de milícia pró-Rússia, cujo presidente foi recentemente condecorado com a medalha Ordem de Honra por seu “ incessante trabalho no incentivo patriótico junto aos jovens”...  

Em tempo de eleições aqui no Brasil, dos três principais candidatos, dois possuem algum tipo de afinidade com o motociclismo. Em agosto passado, a presidente-candidata driblou a segurança, colocou um capacete com viseira escura e saiu a la Sarah Palin pelo Distrito Federal na garupa de alguém que ela não quis identificar. Mais recentemente, Dilma sancionou o adicional de 30% por periculosidade para os motociclistas profissionais. Na cerimônia, realizada no Palácio do Planalto, vestiu o colete fluorescente dos mototaxistas e um capacete, declarando-se “motogirl”.

O candidato Aécio Neves também aprecia as motos, mas prefere as trilhas do fora-de-estrada. Em 2008, acompanhado de três amigos, o então governador de Minas Gerais atravessou o litoral cearense de moto. Segundo consta, ele já teria feito 2.600 km de moto pelas estradas de terra nacionais, passando pelos Lençóis Maranhenses e o litoral de Santa Catarina. Não consegui localizar fotos das discretas aventuras motociclísticas do senador-candidato, mas sei que elas realmente aconteceram.

Em relação ao ex-governador e precocemente morto candidato Eduardo Campos e sua sucessora, a ambientalista Marina Silva, não pude apurar afinidades com o motociclismo. Mas soube que recentemente a dupla visitou a fábrica da Honda na Zona Franca de Manaus e Eduardo posou ao lado de uma CB 500X. Na mesma visita, quando passavam pela área de produção de aros, Marina passou mal e teve que voltar para o ônibus. Tomara que tenha sido passageiro e não tenha nada a ver com as motos.

Seja qual for o eleito, esperamos que os discursos de candidato se transformem em efetivos e verdadeiros atos de interesse público, beneficiando a sociedade como um todo e em especial os motociclistas. As motos são a solução em muitos países, e se há problemas por aqui a culpa não é delas, mas das pessoas ao redor. Governados e governantes. Ou – pior dizendo –, desgovernados e desgovernantes...

APLICATIVO



INSTAGRAM