Roteiro: Tríplice Divisa

Para ser interessante a aventura não precisa ser longa e sim original. Um exemplo é o roteiro de Yamaha Ténéré 660 para conhecer a Tríplice Divisa, que limita São Paulo, Paraná e Mato Grosso do Sul.

21/07/2022 05:07

Após muitos anos acompanhando o meu marido, Edgard Cotait, em algumas viagens de moto nacionais e para fora do País, acredito que me especializei em não ser somente uma garupa, mas fazer parte de toda a viagem, desde o planejamento, e conectada ao GPS, dividir decisões sobre alterações de rota, locais de parada, etc. Gosto muito desse momento, pois também sou aficionada por estradas e aventuras, incluindo os “perrengues”. Em toda viagem de trajeto mais longo, é possível algum contratempo, um caminho errado, um pneu furado, um problema de saúde, e nessas horas, estar presente e fazer parte da solução é uma excelente decisão.
A viagem deste final de 2021 foi escolhida através de um sonho antigo do Edgard, que sempre me disse da sua paixão por mapas e, desde pequeno, tinha interesse em conhecer o ponto limite do nosso Estado, denominado como “Marco Zero de São Paulo”, situado na cidade de Rosana. Essa região compõe a chamada Tríplice Divisa, que limita São Paulo, Paraná e Mato Grosso do Sul. Optamos em nos basear na cidade paranaense de Nova Londrina. Fomos a bordo de nossa Yamaha Ténéré 660, ano 2013, moto confortável e dotada de excelente autonomia. No tanque, cabem 23 litros de gasolina.
Partimos no Natal
No Natal de 2021, saímos bem cedinho de uma São Paulo  ainda sonolenta, com as ruas e marginais quase vazias.  Num dia lindo de sol e ainda com um calor agradável,  percorremos a Rodovia Castello Branco tranquilamente e  rumamos ao Paraná. Aproveitamos os restinhos da ceia para  um piquenique debaixo de uma árvore, na beira da estrada.  E claro, não poderíamos deixar de aproveitar as mangas dos  incontáveis pés que crescem ao longo da rodovia. Bastava  parar, pegar e saborear. Todas frescas, bem doces.
Nosso destino era Terra Rica (PR), onde fizemos reserva  no hotel Shamballa (R$170,00 a diária do casal). Após nos instalarmos, a melhor opção para refrescar seria uma  cerveja muito gelada e um sanduíche do tipo X-Tudo (não  sei o que acontece comigo, mas ao viajar sinto muita fome). Em Terra Rica, ficamos somente uma noite.  
No trajeto do dia seguinte, incluímos trechos  de terra e também estradas vicinais até  Nova Londrina. Em um desses momentos de  descanso, um cavalo se aproximou querendo  fazer amizade (na verdade, procurando por  comida) e ficou conosco por um tempo.  Pode parecer pouca coisa, mas para nós,  que vivemos tão distantes deste mundo na  grande cidade, qualquer oportunidade de estar tão próximo à natureza transforma-se em um momento muito gratificante. 
Patrimônio
Chegamos em Nova Londrina, e no Hotel Gaúcho (R$140,00 a diária do casal), descarregamos a moto, comemos algo leve e partimos para os nossos passeios, buscando sempre a tranquilidade que as estradinhas de terra frequentemente proporcionam. Passamos pelo patrimônio (como são conhecidas as corrutelas ou pequenas vilas) chamado Cintra Pimentel. Particularmente, acho que estes pequenos lugares perdidos em meio às fazendas e quase caídos no esquecimento, são grandes tesouros que encontramos nas viagens. Sempre que possível, aproveitamos para conversar com os locais, que costumam ser pessoas incríveis em simpatia e acolhimento.
Não posso deixar de mencionar o quanto os intercomunicadores fazem diferença para a garupa. Nada de ficar fazendo sinais, cutucando o parceiro ou ficar gritando até que o outro entenda. O intercomunicador sempre ajuda a garupa a indicar uma paisagem ou um lugar para descansar, porque temos mais disponibilidade para observar o entorno. Além de nos manter conectados, ouvimos músicas, conversamos sobre tudo (só não vale discutir a relação kkkk) e é um canal de informações para todos os fins. Nesta viagem, usamos mais a GoPro para filmar e fotografar. Optei por não usá-la afixada no capacete, mas sim, manualmente. Desta maneira, é possível visualizar melhor o que está sendo filmado e conseguir ângulos diferentes. Confesso que me empolguei! Foram tantas filmagens, que quase criei um documentário.
Na volta para nossa base, e após um dia de muito calor e diversão, paramos na pequena e muito simpática cidade de Marilena, em uma lanchonete simplesmente pitoresca demais, com bancos e mesas feitas de madeira rústica, debaixo de árvores frondosas e de sombra generosa, com gente simples e cativante e música sertaneja no último volume.
Marco Zero, finalmente 
O destino do novo dia era o Marco Zero, nas divisas entre os três Estados. Assim, atravessamos para o Estado de São Paulo e seguimos para Rosana. Após passarmos pela cidade, seguimos um caminho de 14 km de estrada de terra. Em sua maior parte, esta estrada é percorrida à sombra de árvores, acompanhando o contorno do Rio Paraná, onde existem algumas ilhas de areia utilizadas para recreações e turismo. O movimento de barcos é intenso nessa época, transportando turistas para as ilhas e passeios ao longo do rio. Ao chegarmos ao destino, o meu sentimento era pura vibração por estar neste lugar tão especial. Só não foi maior do que a gratidão de dividir com meu marido este momento único. O céu e o sol estavam deslumbrantes, tornando a cor das águas em um espetáculo incrível de contemplar. Realizar um sonho, seja ele grande ou pequeno, é uma oportunidade imperdível. 
Ali, fica também o encontro de dois importantes rios brasileiros, o Paraná e o Paranapanema. Alerta: o calor é insano! Mas as paisagens ao longo do rio, do encontro das águas e das matas e estradas, compensam muito. Almoçamos um delicioso peixe no Balneário Municipal de Rosana. Enquanto nos alimentávamos, contemplando nossa moto que estava “misturada” às belezas do local, pensamos no poder libertador dessa máquina, que nos leva aos mais diversos e fantásticos lugares e a momentos em que somente podemos agradecer a Deus. 
Seguimos ao segundo destino do dia. Já do lado paranaense, acompanhar o curso do Rio Paranapanema, por estradinhas e carreadores de terra, em meio a plantações e fazendas de gado. Estas estradas são relativamente boas, sem muito areião, pouco esburacadas e não apresentavam nenhum trecho de lama. Já não se pode dizer o mesmo das pontes, algumas boas e outras completamente precárias. Em uma delas, havia grandes cabeças de pregos expostas, madeiras apodrecidas e água corrente muito forte passando por baixo. Uma queda ali poderia trazer sérias consequências. Somente poucos rastros de veículos leves e que não nos traziam indicadores precisos de segurança. Nestes pontos, confio bastante na experiência do Edgard, mas por garantia, desci da moto, para aliviar o peso ao atravessar a ponte. Correu tudo bem e pudemos seguir adiante. Fomos para Porto Maringá, local de praias e que conta com um mirante de onde é possível avistar o mesmo Marco Zero de São Paulo, em que havíamos estado pela manhã.
Chuvas & Laços
Após tantas estradas de terra e diversão, merecíamos um descanso especial e aproveitamos o dia seguinte em Porto São José (PR). Confesso que não acreditava que seria tão legal quanto foi. Praia gostosa, água limpa, ambiente super familiar e bastante seguro, contando com equipe de salva vidas e com serviço de atendimento de comidas e bebidas. Recomendo!
Decidimos dividir nossa viagem de volta em duas partes. Saímos de Nova Londrina para Garça, onde também moramos. No caminho, passamos pelo belo Parque Estadual do Morro do Diabo (Teodoro Sampaio, SP), assim chamado por ser o único ponto de elevação de toda região. Eu já conhecia o lugar há alguns anos e me surpreendi com a preservação e a preocupação atual com os animais silvestres, repleto de passagens especialmente construídas para a travessia segura por baixo da pista, por parte destes. Chegamos em Garça e, para o dia seguinte, a previsão prometia fortes chuvas no trecho até a capital. Bom, promessa cumprida e chuva direto em todo o trajeto. Preciso admitir que tenho um pequeno receio de andar de moto na chuva, mas como boa garupa que sou, procuro continuar desempenhando meu papel.
Finalizando, estou sempre pronta para a próxima aventura! Para quem pode desfrutar desses momentos, aproveite! Confie e curta cada quilômetro da estrada, criando novas lembranças e laços mais fortes.

 

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