Teste comparativo: G310R x 390 Duke x MT-03 x Z300 x CB 500

18/10/2017 04:10

A expectativa pelo lançamento da BMW G310R vinha sendo alimentada há quase dois anos, desde que a marca confirmou o projeto. Em dezembro de 2015 ela esteve em nossa capa já em sua forma definitiva e com especificações técnicas confirmadas, mas somente um ano depois nós (e jornalistas do resto do mundo) pudemos andar nela pela primeira vez. E agora finalmente à venda no Brasil foi possível testá-la em nossa realidade e compará-la à concorrência. Que ficou mais feroz...

Desde o começo a BMW manteve o discurso de que lançaria uma 300cc “premium”, com componentes e qualidade de acabamento acima da média da categoria (entenda-se das japonesas), cuja prioridade seria entregar uma pilotagem urbana amigável e confortável. Por preço (R$ 21.900), configuração e status de marca a KTM 390 Duke seria a concorrente mais próxima, embora não preocupasse os alemães devido à abordagem “ready to race” que a torna mais arisca e menos confortável. Portanto, a Duke é praticamente o oposto do que a 310 se propõe a ser.

A questão é que não bastasse a Yamaha MT-03 oferecendo o apelo do motor bicilíndrico mais potente, a Honda reduziu o preço da CB 500F com ABS de R$ 28 mil para R$ 23.900 (consultamos concessionárias e confirmamos que a moto está de fato à venda por este valor). Um ano atrás, quando a Honda remodelou a CB, melhorou pinça de freio e suspensão dianteira, e aumentou os preços para R$ 28 mil e R$ 26 mil (sem ABS, versão que não existe mais) recomendamos a nossos leitores que pagassem quase o mesmo valor pela Yamaha MT-07 ou, se quisessem gastar menos, que preferissem a MT-03, ambas vencedoras dos comparativos nas respectivas categorias. A relação custo-benefício da CB estava desequilibrada, por aqueles preços havia abandonado o posicionamento para o qual fora criada: combater as 300cc oferecendo mais, por um pequeno acréscimo de valor. Agora o rumo foi corrigido.

Claro que o cliente da BMW dificilmente compraria da Honda ou da Yamaha, mas será que o objetivo dos alemães não é justamente atrair uma parte dos clientes das marcas japonesas? Nossa avaliação não leva em conta o valor subjetivo da marca, mas o que os produtos entregam na prática, seja na performance em variados quesitos ou na qualidade de acabamento, por exemplo. E é por isso que na faixa de preço da BMW G310R, seja premium ou não, vamos compará-la a KTM 390 Duke (R$ 21.990), Yamaha MT-03 (R$ 21.190), Kawasaki Z300 (R$ 20.890) e Honda CB 500F (R$ 23.900). Todas com freios ABS.

Acelerando   

A recém-chegada G310R tem a melhor qualidade de acabamento da turma, o assento de espuma mais macia, um conjunto de suspensões e freios muito acertado, e um motor de pontos altos e baixos. Monocilíndrico como o da Duke – que compensa na cilindrada maior de 373cc – é o que rende menor potência máxima ao somar 34 cv a 9.500 rpm e o torque de 2,8 kgf.m a 7.500 rpm só não perde para a Z300, que gera o mesmo número a distantes 10.000 rpm. Na prática não fica atrás como a ficha técnica sugere porque, devidamente auxiliada pela relação de transmissão, retoma velocidade mais rápido que MT e Z300, ficando atrás de CB 500 e Duke.

O problema desta configuração é que pode até causar uma boa impressão de resposta imediata ao acelerador, mas não faz milagres. A vibração continua sendo de mono e comparada aos outros modelos (exceto a Duke) é cansativa na estrada, quando o conta-giros marca 6.000 rpm a apenas 100 km/h. Na CB, que entrega as retomadas mais rápidas do grupo, são apenas 4.500 rpm. As respostas da Honda (50 cv a 8.500 rpm e 4,5 kgf.m a 7.000 rpm) são mais suaves, facilitam a condução com garupa e também foram melhores em todas as medições de 0 a 100 km/h: 5s68, seguidos de 5s77 da KTM (44 cv a 9.500 rpm e 3,5 kgf.m a 7.250 rpm), 6s59 da Yamaha (42 cv a 10.750 rpm e 3 kgf.m a 9.000 rpm), 6s99 da BMW e 7s08 da Kawasaki (39 cv a 11.000 rpm e 2,8 kgf.m a 10.000 rpm). Ainda sobre as respostas ao acelerador, a Duke reage pronta e energicamente, em oposição ao comportamento gradual da CB, ao passo que MT e Z300 empolgam a partir de 6.000 rpm. Em termos de velocidade máxima há três patamares aqui, a CB alcança 180 km/h, Duke, MT e Z ficam ao redor de 170 km/h com pequenas variações, e a BMW na casa de 160 km/h. 

Os comportamentos dinâmicos variam bastante, a CB se separa do grupo pelo peso e medidas maiores que aproximam a sensação de pilotá-la a uma 600cc, mais do que 300cc. Há mais espaço para piloto e garupa, transmite menos vibração e irregularidades do piso. As outras quatro são mais curtas e leves para direcionar, sendo a KTM o extremo: é até arisca ao mudar de direção, além de mais “rígida” nas suspensões. Embora competente em pilotagem esportiva, o desconforto em piso irregular é potencializado pelos bancos de espuma excessivamente rígida (os assentos conforto da marca custam R$ 700 cada). A BMW é a única além da KTM também equipada com garfo invertido e que mais se aproxima da qualidade de “cópia” do asfalto e consequente precisão e estabilidade entregues pela Duke, porém com mais suavidade e auxiliada no conforto por assentos de espuma super macia. Na CB não há garfo invertido, mas o componente inclui a possibilidade de regular a pré-carga de mola que nenhuma outra tem.

Nova equivalência entre G310R e Duke está nos freios Bybre (subsidiária indiana da Brembo para equipar motos de baixa cilindrada) com pinça radial de quatro pistões e flexíveis de malha de aço. Ambos de destacam pelo melhor tato e resposta mais imediata que nas concorrentes; em seguida vem o bom sistema da CB 500, e claramente MT e Z300 ficam no fim da lista por causa do tato algo “borrachudo”. O ABS mais eficiente e de atuação sutil na Honda, no entanto, a levou ao surpreendente resultado do menor espaço necessário para frear a 100 km/h: 50 metros, apesar de ser até 42 kg mais pesada. A BMW percorreu 51,1 metros, seguida da mais leve KTM com 51,8 metros, Yamaha com 52,9 metros e Kawasaki com 53,2 metros.

Depois de muitas horas rodando por ruas e estradas, de longas retas e curvas de serra, com e sem garupa, é inevitável concluir que a CB 500F é mais moto. Vale os R$ 2 a 3 mil adicionais. Em segundo lugar, entre as 300cc, preferimos o custo-benefício da MT-03 e seu bom equilíbrio de motor, conforto e ciclística por menor preço; à excelente ciclística da BMW falta o motor, que também impacta o conforto por conta da vibração, mas caso sua necessidade seja preferencialmente urbana é uma ótima opção. A Kawasaki Z300 é tecnicamente muito semelhante à Yamaha, mas esta é melhor de maneira geral. E a Duke cansa pela falta conforto e tem problemas de acabamento, questões que parecem sanadas no novo modelo já à venda na Europa e que será lançado no Brasil para a linha 2018 (provavelmente no Salão Duas Rodas, em novembro). 

APLICATIVO



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