Uma história americana

Com 115 anos, a Indian é uma das marcas mais antigas do mundo. E o modelo Chief é seu maior legado

09/06/2016 17:38

No começo do século passado a motocicleta era novidade num mundo que se tornava cada vez mais industrializado. As primeiras eram basicamente bicicletas motorizadas com a recente tecnologia a combustão, novidade que que uniu os fundadores da Indian George Mallory Hendee, um ciclista que se transformou em fabricante de bicicletas na cidade de Springfield, e Carl Oscar Hedström, que chamou atenção de seu futuro sócio ao apresentar publicamente uma bicicleta motorizada em 1900.

A sociedade dos dois foi estabelecida em 1901 sob o nome Hendee Manufacturing, na qual o industrial de Springfield geria a empresa e Hedström desenvolvia os veículos. O primeiro deles tinha motor de 1 cilindro que rendia apenas 1,75 cv e rapidamente se tornou um sucesso, dando fôlego para que em 1905 investissem na fabricação de motores em V para uso em competição. A nova tecnologia chegou às ruas dois anos depois com 633cc que geravam 4 cv de potência. Com o motor em V realizariam grandes feitos, como a conquista das três primeiras posições na quinta edição do Tourist Trophy, realizado na Ilha de Man (Reino Unido) em 1911. Um ano depois, o mesmo motor leva o piloto americano Erwin Baker por mais de 22.000 km em três meses, partindo da Flórida rumo a Cuba, Jamaica e Panamá. Em 1914, Baker cruza todo o continente norte-americano em apenas 11 dias.

A empresa já era a maior fabricante de motocicletas mundial, com produção acima de 30 mil unidades anuais, quando a primeira grande atualização do motor V2 foi lançada ao público em 1916: era a versão Powerplus, com 1.000cc e inovações para ficar mais robusto e silencioso. Oficialmente rendia 7 cv, embora testes realizados posteriormente em dinamômetro tenham acusado de 15 cv a 18 cv. O primeiro modelo a receber o propulsor foi a Scout, que também era oferecida em versões 600cc e 750cc. A lendária Chief só seria lançada no final de 1921, com motor de 1.000cc, até receber uma nova motorização de 1.200cc em 1923, que rendia 24 cv a 3.000 rpm – o suficiente para beirar os 100 km/h.

Os modelos tinham posicionamentos diferentes, a Scout mais ágil e voltada à performance, enquanto a Chief era mais confortável e sofisticada. Eram equipadas com um sistema de suspensão dianteira que utilizava feixe de molas central, já na traseira o conforto era garantido apenas pelas molas nos bancos, pois não havia suspensão. O câmbio tinha 3 marchas e ambas pesavam mais de 190 kg a seco.

Da liderança ao fechamento

Pela distribuição diferenciada dos comandos, pilotar uma Chief era uma experiência singular. A embreagem era acionada por um pedal à esquerda e não se soltava automaticamente, enquanto as marchas eram trocadas pela mão, por uma alavanca que podia ser instalada em qualquer uma das laterais do tanque. O acelerador já estava posicionado na manopla direita, mas deste lado também havia o comando para ajustar o avanço da ignição e fazer com que o motor trabalhasse melhor em giros elevados.

A Chief recebeu poucas melhorias nos anos seguintes, como a instalação de freio dianteiro em 1928, e sua grande mudança aconteceria só em 1940, quando foi equipada com amortecedores na traseira e para-lama envolvente, alterações que seriam referência da marca. O motor foi mantido com 1.200cc, mas as melhorias realizadas ao longo dos anos elevaram consideravelmente seu desempenho, passando a desenvolver 40 cv a 5.000 rpm. A Scout permaneceu sem mudanças visuais expressivas até o fim da produção, em 1949, enquanto a Chief, carro chefe da marca, foi fabricada até 1953.

A primeira grande crise da marca aconteceu durante a 1ª Guerra Mundial (1914-1918), quando a fabricante levou concessionários à falência por deixar de entregar motos para priorizar as Forças Armadas dos Estados Unidos. Hedström e Hendee deixaram a empresa nessa época, quando também abandonou as competições.

Mesmo com a produção de motos reduzida e a perda da posição de líder para a Harley-Davidson, a Indian seguiu firme e em 1923 comemorou um total de 250 mil motos produzidas. A aquisição da Ace Motor Corporation em 1927 ajudou a alavancar a marca e o maior fruto desta transação foi o lançamento da Indian Four, equipada com motor de 4 cilindros em linha e 1.260cc posicionado longitudinalmente. Mesmo sem grande aceitação, a Indian Four foi fabricada até 1942.

A 2ª Guerra Mundial (1939-1945) foi outro período crítico para a Indian, que novamente disponibilizou motos para o exército. O maior volume de encomendas ficou com a Harley-Davidson, que já equipava as motos com câmbio de 4 marchas e sistema de acionamento simplificado, como o atual, com embreagem na alavanca esquerda e pedal para a troca, além de oeferecer mais alternativas de cores para uso civil. A partir daí o declínio da Indian se acentuou, em 1950 foi vendida para um grupo de empresários ingleses que detinha as marcas AJS, Matchless, Norton, Royal Enfield e Velocette – passaram a fabricar motos com a tecnologia inglesa de pistões paralelos e válvulas no cabeçote. As mudanças nas motos não ajudaram as vendas, levando ao fechamento em 1953.

Ex-pilotos e empresários tentaram reerguer a Indian diversas vezes e novas versões da Chief foram projetadas, sem sucesso, até que a fabricante de veículos off-road Polaris comprou os direitos em 2011. Após dois anos de desenvolvimento, a Chief finalmente voltou em uma nova versão com as tradicionais linhas envolventes e um motor V2 de 1.800cc com fôlego para dar continuidade à lenda americana.

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