Coluna do Fausto Macieira: num beco escuro explode a violência

Nosso colunista usa como base o atentado recente na França e fala da importância do respeito e da divergência de opiniões

20/02/2015 11:13

Fausto Macieira é repórter do SporTV e colunista de Duas Rodas

A essa altura a pilha de artigos que já foram publicados sobre o atentado do dia 7 de janeiro em Paris daria para voltas ao mundo, no plural mesmo. Alguns, mesmo defendendo a liberdade de expressão, chamaram a atenção para os excessos da revista semanal Charlie Hebdo, que ridicularizava de maneira radical, muitas vezes boçal, celebridades, políticos e religiosos, sem exceção.

Brincaram com fogo, cutucaram a onça com vara curta e outros chavões foram lançados à discussão, com resultados diversos. Pow, peraí: uma piada, por mais pesada ou desrespeitosa que seja, não deveria ser revidada com uma agressão descomunal em relação à ofensa. Sentiu-se prejudicado? Corte relações, acione a Justiça e o principal, argumente, explique por que o desenho, ato, opinião, o que for, te contraria.

Boa parte das guerras, batalhas e escaramuças tem o mesmo fundamento, a intolerância. Para restringir o assunto à nossa área de atuação, existe o pessoal que gosta das motos esportivas, os estradeiros, os que curtem o fora-de-estrada, scooters e por aí vai. Além disso, tem a turma que aprecia as japonesas e os que preferem as europeias. Imagine se essas, por assim dizer, facções não se tolerassem, como por vezes, ainda bem que esparsas, acontece.

Nossa revista Duas Rodas, que é uma espécie de geleia geral, ou seja, trata de assuntos variados, estaria na alça de mira desses “motociclistas-xiitas”. A redação na metrópole (São Paulo), o segundo escritório na província (Rio de Janeiro) e as pessoas que trabalham para a publicação estariam sujeitas a uma metralhada certeira, eu incluído.

Acho que ninguém deixaria de fazer o que acha correto, e provavelmente seríamos exterminados em pouco tempo. Mas o que isso acarretaria? Certamente os autores seriam execrados, e seu segmento, fosse qual fosse, marginalizado e possivelmente perseguido. Em suma, seria um tiro no pé, como aconteceu na França. Temos exemplos recentes no motociclismo esportivo, em relação à participação dos pilotos estrangeiros. Minha posição é clara em relação a isso. Nada contra, desde que a equipe que os contrata abra espaço para pilotos brasileiros na mesma proporção. Aliás, no mundo inteiro a coisa já funciona dessa forma, e bem.

Mas nem sempre foi assim: a fanática torcida espanhola já jogou meias com pedras dentro em pilotos estrangeiros nos anos 1980. Casey Stoner foi vaiado na França e o motorhome de Valentino Rossi apedrejado na Inglaterra. Se a pessoa não gosta de alguma coisa, acha de mau gosto, irresponsável, ofensivo ou algo parecido, que deixe de vê-la, ninguém é obrigado a assistir a corridas, comprar o Charlie Hebdo ou o nosso falecido, mas importante jornal “O Pasquim”, que seguia a mesma linha de ação. 

Quase tudo na vida tem muitas facetas, diversas interpretações, especialmente as motocicletas. É impossível agradar a todos, daí a variedade de modelos, cilindradas e destinações. Escolha a sua e não se queixe das demais, você mesmo pode mudar de ideia com o passar do tempo. A liberdade de expressão faz parte inseparável da dignidade, dos direitos fundamentais da pessoa humana, da civilização. Portanto, se quiser metralhar alguém, o faça com palavras e argumentos, porque o planeta já tem problemas demais para nos matarmos por diferenças de opinião.

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